PATRÍCULA ELEMENTAR

«A nossa pequena pátria, a nossa patrícula.» B. Vian

De pé, ó vítimas da democracia

“Sou um homem, sou pai de família, sou avô, sou fascista.”

Rui Cruz, 6ª Convenção do Chega, 13.01.024

Têm-me perguntado, amiúde, porque chamo Farturas ao caudilho daquele grotesco saco de gatos que se chama Partido o Chega (doravante abreviado PoC). Basta escutar-lhe as promessas. Só a equiparação das pensões de sobrevivência ao salário mínimo acrescentaria pelo menos 11 mil milhões, por ano, ao orçamento de Estado, qualquer coisa como um défice de 5% no PIB. Se lhe acrescentarmos o apoio ilimitado aos veteranos do ultramar, a equiparação salarial de todas as polícias, a reposição do tempo congelado aos professores e a saúde garantida para todos, no privado, se o Estado não a conseguir suprir através do SNS, alcançaremos um número seguramente não muito distante dos 20 mil milhões. Fixos. Ano após ano.

Afiança que, parecendo difícil, basta recuperar igual valor que foge ao Estado através da corrupção. E diz isto com a boca toda aberta, sem se rir. Não se percebe onde vai buscar este número, mas ele lá saberá, até porque tem acesso a informação fidedigna do Steve Bannon, de uma certa fundação sediada em Moscovo e até dos laureados oráculos internacionais, Donald Trump e Messias Bolsonaro.

A verdade é que prometer acabar com a corrupção em Portugal (ou em qualquer outro país) equivale à promessa de Ronald Reagan de acabar com as drogas nos Estados Unidos da América do Norte. Quarenta anos depois continua a garantir boas séries em streaming e o público até chega a ter saudades desses pacatos anos 80 do século transacto.

Enfim, parece que o Farturas ficou “bastante incomodado” com a profissão de fé, fascista, do militante de base Rui Cruz. Pudera. Logo agora que o Farturas ensaiava o discurso do ex-homem de Deus, Pátria e Família, vem um paisano lembrar à Pátria que o ADN do PoC (expressão que o Farturas gagueja até ao vómito) é esse mesmo — fascista, caudilhista, fraldiqueiro. Lembrando outros que, há pouco menos de um século, prometiam tudo e mais alguma coisa aos deserdados da Democracia em portugais, espanhas, itálias e alemanhas.

O Farturas pode muito bem ter ficado “bastante incomodado” com o incidente oratório, mas não foi certamente por causa do empolamento dos media. E a espantosa tentativa do desbocado bonus pater familiae do PoC a garantir que estava apenas a ser irónico, enfim, já começou a fazer parte do anedotário popular.

Temos pena? Nem por isso. Como diria, não o falecido Sá Carneiro, mas o sobrevivo engenheiro Guterres — É a vida.

Provedor do Otário — V série — 169

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This entry was posted on 15 de Janeiro de 2024 by in Provedor do otário and tagged , , , , .

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