Capa da edição da revista Visão de 24 de Agosto de 2017 (*)
Luís Delgado assinou há dias o contrato que formalizou a compra de 12 títulos anteriormente detidos pela Impresa de Pinto Balsemão. Há entre eles publicações importantes para a história do jornalismo português, caso do velhinho JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias (apesar do seu cinzentismo e do aviltante e paulatino desinvestimento, patente na crescentemente miserável qualidade do jornalismo ali praticado), ou da revista Visão (apesar da tabloidização que tem sofrido, através da utilização da linguagem da publicidade e da comunicação corporate – i.e., da propaganda -, em que dominam conceitos como as news-to-use e outros pseudo-géneros jornalísticos importados da Anglosfera que não têm nada que ver com jornalismo e podem ser produzidos a custo baixo).
Títulos que pessoas que não foram jamais verdadeiramente jornalistas não souberam ou não quiseram reinventar para a Globalização, no que constitui um evidente paradoxo, atendendo ao pensamento liberal (no sentido económico) que as define, estando aliás muitas delas ligadas à expansão em Portugal do chamado jornalismo económico.
Ao contrário do que penso (e tenho vindo desde há longo tempo a defender, sem que a realidade me demova, muito pelo contrário), Luís Delgado afirmou «que as revistas em papel têm futuro, apesar do crescimento do digital, onde estes títulos também se posicionam e vão continuar a crescer.» Delgado disse ainda que acredita, «acima de tudo, que se pode criar ainda mais valor em redor destas marcas prestigiadas e de referência». Não duvido. Resta saber para quem, pois não me parece de todo que seja para a requalificação do jornalismo português. Muito menos para o seu posicionamento no contexto de uma realidade global em que o jornalismo de Língua portuguesa (variante europeia) podia ter uma palavra decisiva a dizer.
(*) Uma capa (e conteúdos destacados) para mim incompreensível do ponto de vista estritamente jornalístico; que explora o medo (e fomenta o terror) do público face a acontecimentos que este não pode controlar (prever, contornar, garantir a sua segurança), pretendendo ajudar os leitores a sobreviver àqueles; que mistura fenómenos distintos como os cataclismos naturais e o terrorismo, a que o verdadeiro jornalismo dedicaria outras abordagens, necessariamente de maior profundidade (mediante reportagens e entrevistas de fundo, com o objectivo sério de procurar interpretar o que está na origem dos mesmos); que instrumentaliza a opinião pública com frases muito questionáveis em termos de objectividade e isenção, desgarradas do seu contexto, com o objectivo evidente de impugnar mediaticamente o actual governo português; que oferece leitura rápida e conteúdos ligeiros que estão ao nível de publicações de distribuição gratuita e sem pretensões jornalísticas, como a revista da rede de farmácias portuguesas, por exemplo.